#Pelotas210anos

O nosso lugar em Pelotas

Nos 210 anos do município, completos nesta quinta-feira, uma homenagem aos espaços pelotenses e suas relações especiais com os moradores

Jô Folha -

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Da cidade que já foi considerada pela sociedade brasileira a aristocracia do Sul do país, pela sua arquitetura e riqueza, à atual que transita pelo moderno, com avanços no setor da tecnologia e de inovação, sem perder o glamour de uma Princesa do Sul. Os novos empreendimentos dialogam perfeitamente com a história do município, que chega nesta quinta-feira (7) aos 210 anos sendo reconhecido pelos seus atrativos turísticos, gastronômicos e também de negócios. A Pelotas de 1812 cresceu e hoje abraça quase 350 mil habitantes. Sua missão é manter sempre a relação de amor para com os seus. Seja pela rua onde moram, pela praça da comunidade, pela praia, pelo campo de futebol, pela universidade ou por um ponto turístico que permite, a cada pelotense, o sentimento de pertencimento, de identificação ou de apego. Um cantinho onde cada um se reconhece como cidadão e leva na memória os momentos felizes que ali viveu.

A professora Nirce Medvedovski, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel, que trabalha com a relação ambientes/comportamento, explica que são dois sentimentos que ligam as pessoas com espaços da cidade. Um deles é o apego, quando há um vínculo emocional com o lugar, por desenvolver experiências positivas e que tanto pode ser um espaço do Centro Histórico da cidade, como dos novos empreendimentos, como o Parque Una e Quartier. “A praça Coronel Pedro Osório passou por melhorias, o que fez com que o sol iluminasse mais os canteiros, levando vários jovens a passarem as tardes nesse espaço público.” O outro sentimento é o da identidade do lugar, que, nesse caso, carrega na bagagem toda a questão da educação familiar ou a trabalhada em sala de aula sobre a tradição da cidade. “Alguém passou a informação de que a cidade foi polo cultural, o avô morou em tal lugar, a escola ensinou sobre o passado de Pelotas e isso fica na consciência das pessoas”, destacou a docente, defensora assídua da manutenção do Patrimônio Histórico local.

Para a professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da UFPel, Maria Leticia Mazzucchi Ferreira, que atualmente mora em São Francisco de Paula, novo e antigo, velho e moderno estão longe de ser palavras antagônicas. “São, na verdade, formas de expressar nossa relação com o tempo, o que está distante e o que consideramos próximo de nós. Dessa forma, a relação de pertencimento se constrói num conjunto de sentidos e significados que vão sendo tramados em cada momento de nossas trajetórias”, explicou. Para ela, o que parece arcaico e ultrapassado em um momento pode transformar-se em signo de modernidade, ou mesmo referência identitária, em outro. “Tomo meu caso ao dizer que desde que deixei Pelotas e vim morar na Serra gaúcha me vejo com frequência recuperando, pela memória, as ruas pelotenses e seus casarios antigos, lugares que quando passava pela frente tentava imaginar em outro tempo e, de certa forma sentia, um conforto por saber que estavam ali, resistindo ao desaparecimento. Sinto falta disso quando ando pelas ruas desta pequena cidade e encontro apenas vestígios do que um dia existiu”.
Nesse clima de reconhecimentos, a homenagem do Jornal Diário Popular aos seus conterrâneos pretende levar o leitor a locais em que ele também se reconheça através de depoimentos de pelotenses que moram por aqui e dos que, de longe, não esquecem suas raízes.

Mercado para todos

A_mercado central

Juliano Cazarr?

Juliano Cazarré, o Alcides de Pantanal, saiu de Pelotas aos três anos. Retornou algumas vezes com seu pai, o escritor Lourenço Cazarré, que mora há 45 anos em Brasília. Entre as lembranças que guarda da terra natal está o Mercado Público Central. “Eu me lembro que lá vendiam animais. Tinha aquelas gaiolas grandes e aquelas coisas tradicionais do Sul, que eu, morando em Brasília, sempre gostava de comprar, como alpargatas, bombachas, cuia. Era um lugar que eu adorava ir com meu pai”, disse o ator à reportagem. E foi exatamente com essa proposta - a de comércio - que surgiu o Mercado Municipal, lá em meados de 1846, em um terreno próximo à praça Coronel Pedro Osório, segundo indicação de Dom Pedro II.

A obra tinha como propósito dar uma estrutura aos comerciantes ribeirinhos, em um momento de prosperidade das charqueadas, também para concentrar os negócios de quem vinha do interior com insumos, além de servir de ponto de comércio para o abastecimento dos navios rumo à Europa. O local ficou pronto em 1952 e chegou a ser comparado ao Mercado da Candelária, no Rio de Janeiro. A primeira reforma foi em 1912, quando recebeu a estrutura em ferro e a torre que até hoje reina ao centro da edificação.

“O meu pai sempre contava de um incêndio. Eu não lembro se ele viu, ou se foi anterior e algum parente contou pra ele”, comentou Cazarré. O sinistro de grande proporções ocorreu em 1969 e só restou a estrutura em ferro. As causas até hoje são desconhecidas. O certo é que muitos permissionários da época sofreram ao ver seus bens sendo consumidos pelo fogo. Atualmente, o Mercado Público Central, restaurado, abriga diferentes comércios e, no coração da cidade, é ponto de encontro para muitos pelotenses.


A tradição de domingo

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Neusa Silveira e Luis Carlos

Em um tom saudosista, a empresária Neusa Silveira, proprietária do Kurotel, em Gramado, recorda com alegria vários lugares de Pelotas que a marcaram, como a Universidade Católica (UCPel), onde conheceu seu marido, Luís Carlos Silveira. Mas são as matinês de domingo que mais têm espaço em suas lembranças. “O Cine Capitólio era imperdível aos domingos, na sessão das 14h”, revelou. Depois, como era tradição, a turma passava pela rua 15 de Novembro, onde costumava fazer um lanche na taberna Willy, dona da melhor torrada americana da cidade. “São muitas boas lembranças e eu adorei participar dessa homenagem”, resumiu.

Pois o Cine Capitólio virou estacionamento. Suas cadeiras em madeira e couro vermelho são encontradas em vários locais da cidade como forma de guardar um pedacinho da memória do local, que exibiu por 79 anos filmes famosos. O espaço, nos anos 50, foi palco também para peças teatrais. Em 1967, uma reforma o deixou com tons mais modernistas, pois a época pedia. O Titanic, de 1997, foi o último filme que lotou o Cine, fechado dez anos depois. Já a taberna Willy teve seu auge entre os anos 50 e 60 e atraía muitas moças e seus pretendentes. As mesas, bancos e cadeiras eram em madeira, no estilo colonial alemão, e muito aconchegantes. Localizada ao lado do antigo Bazar Edison, a taberna funcionou até meados dos anos 70, quando o prédio passou a ser ocupado pela então TV Tuiuti. Hoje o local abriga uma financeira.

 

Um palco de todos

C_7 de abril

Luciano Maia foto Alessandra Rosa


O músico pelotense Luciano Maia, 42 anos, sempre foi fiel à sua gaita e às suas raízes regionais do Sul, o que não o impediu de transitar por outros ritmos brasileiros e universais e mostrar seu trabalho como gaiteiro, compositor e produtor musical. Atualmente, Maia está em Portugal. Ele começou cedo e, por isso, das lembranças da terrinha guarda principalmente a primeira vez em que subiu ao palco do Theatro Sete de Abril. “Tive a oportunidade de tocar com Joca. Assisti a muitos shows e ainda tive a satisfação de dividir o palco com Hermeto Pascoal. Mas o que mais me marcou foi o lançamento do meu primeiro disco instrumental, em 1998, Sonho Novo”, revelou.

E não foram poucos os nomes importantes que encenaram, recitaram, cantaram, tocaram ou dançaram no Sete. Construído em 1834, durante o Ciclo Econômico das Charqueadas, o teatro recebeu peças internacionais que, antes de rumarem a Montevidéu e Buenos Aires, passavam por Pelotas.

Com características da linguagem colonial, o prédio simples, coberto por telhado com beiral, teve como projetista o engenheiro alemão Eduard van Kretchmar. A execução foi de José Vieira Vianna. O palco que contou tantas histórias tem ainda muitas outras para a revelar quando forem concluídas as obras de restauro, iniciadas em 2010. A estimativa é que em janeiro do ano que vem tudo esteja pronto. “Tenho uma ligação com esse teatro por ele ser um ícone da nossa cultura brasileira. Sempre que eu vou a Pelotas passo pela praça. Espero que em breve eu possa vê-lo reaberto”, disse Maia, direto de Lisboa.

 

Tem fut na praia

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Gustavo Paradeda


Foi na década de 90 que o ainda jovem veranista do Laranjal, Gustavo Paradeda, 43 anos, começou a ensaiar seu futebol na areia fina e pesada da praia. As competições dos praianos, que reuniam famílias dentro e fora das quatro linhas, são a principal recordação do jogador - hoje com dupla nacionalidade. Radicalizado na Rússia, atualmente Paradeda está em Pelotas, em função da guerra. Sua recordação principal da cidade, e principalmente da praia, é a diversão nas noites quentes de verão. “O que tinha de mais legal era que as disputas eram entre amigos e as famílias de todos participavam torcendo pelos times”, contou. Atualmente a arena continua no mesmo lugar e ganhou muito mais adeptos, sendo melhor estruturada desde a chegada da Casa da Praia, parceria entre Sesc e prefeitura. A partir desse ponto, muitas competições esportivas são realizadas e, no verão, o futebol masculino e feminino, o vôlei, o beach tênis, entre outras atividades, movimentam o espaço de lazer que tanto divertiu o pelotense goleiro, hoje conhecido no mundo. 


Mar de água doce

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Adriano praia do Laranjal


Embora Pelotas tenha diversos outros lugares que marcaram a vida do profissional liberal Adriano Silveira, 45 anos, é com a praia do Laranjal que ele mais se identifica. “Foi nela que conheci minha mulher, casei, formei minha família e foi onde criamos nosso filho. É aqui que moramos até hoje e daqui não pretendemos sair.” A ligação com a praia é especial pela prática de esportes na água doce da Lagoa dos Patos, lugar privilegiado também para contemplar a beleza da natureza. Nas reuniões com os amigos, são preservadas as raízes e relembrados momentos felizes, como as idas à padaria Aveiro, mais conhecida como a “padaria do Boião”, para comprar pão quentinho, além dos encontros com a “turma” no Calçadão. “Cada lugar na praia nos traz uma boa recordação”, revelou.


Do desmembramento da Estância do Laranjal de Nossa Senhora dos Prazeres, nasce o espaço que acolhe atualmente cerca de 40 mil pelotenses. O loteamento teve início em 1950, quando a família Assumpção, proprietária original da área, começou o processo de divisão. Apesar disso, já no fim do século 19, início do 20, a população de Pelotas utilizava o Laranjal para lazer, mediante autorização dos então donos das terras. Por ser uma área de grandes plantações de laranjas e frutas cítricas, ganhou o carinhoso nome. Até a construção da ponte sobre o arroio Pelotas, a travessia dos visitantes era por balsas. Dono de um dos pontos turísticos mais belos da cidade, o trapiche, o bairro fica distante 12 quilômetros do Centro da cidade. Sua essência natural se mantém até hoje e dialoga muito bem com as melhorias que recebe a cada ano.

Para sempre Baronesa

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Mirian Silveira


Nos 200 anos de Pelotas, a então estudante do Ensino Médio, Miriam Silveira, 25 anos, homenageou a cidade com o poema “Lembranças da Tradição”, vencedor do concurso literário Lourenço Cazarré, na categoria juvenil. Dez anos depois, a graduanda em Agronomia pela UFPel volta a demonstrar sua paixão pela cidade ao revelar o espaço que mais lhe traz sensação de felicidade e bons momentos: o Parque da Baronesa. “Foi o local do meu primeiro piquenique, com a turma da pré-escola. Também do meu book de 15 anos, com as belas paisagens que o parque tem. É um lugar que me traz o aconchego quando estou em família, já que é um ponto turístico perfeito para se estar em dias ensolarados na companhia das pessoas que amamos.”

Foi com o mesmo sentimento de amor de Miriam que o barão de Três Serros, Anníbal Antunes Maciel, e a baronesa Amélia mandaram edificar o solar em 1863. Tombado pelo Iphan, como patrimônio histórico de Pelotas, o prédio abrigou três gerações da família até ser doado à prefeitura, em 1968. Para deleite da população, toda a área, que abrange ainda uma torre de banho, jardins nos estilos francês e inglês (este com uma gruta), um castelinho, um chafariz e a casa azul, virou o Museu Municipal Parque da Baronesa, que recebe visitantes, além de acolher - nos finais de semana ensolarados - centenas de pelotenses, com diferentes atrativos, como exposições, feiras e shows.

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